Rota das cervejas trapistas na Bélgica e Holanda

Olá pessoal! Aqui é o Paulo da Vai Pro Mundo.

Muito se ouve falar sobre o crescimento das cervejas especiais e artesanais aqui no Brasil, não é? Você sabia que também tem crescido muito o turismo cervejeiro?!

Bastante gente tem aproveitado as viagens para conhecer e aprimorar um pouco mais o seu paladar cervejeiro. 

Aqui na agência temos alguns viajantes apaixonados pelo assunto e que não deixam de visitar uma cervejaria em cada viagem.

Vou compartilhar com vocês um roteiro que fiz junto com a minha esposa Larissa em 2014 e que até hoje nos deixa bastante saudade! A ideia do roteiro surgiu da vontade de visitar e provar in loco as famosas Cervejas Trapistas.

A viagem começou em Paris e terminou em Amsterdã. No caminho passamos por diversas cidades pequenas e pouco conhecidas, que normalmente não estão nos roteiros turísticos, mas que abrigam algumas das melhores cervejarias do mundo.

Mas antes de mais nada, você sabe o que é uma Cerveja Trapista? Senta que lá vem história…

As cervejas trapistas são cervejas feitas de acordo com as premissas e supervisão de monges da Ordem Trapista. Para as cervejas serem reconhecidas como trapistas elas devem ser produzidas dentro dos muros de um mosteiro trapista pelos monges ou com a sua supervisão e não podem ter fins lucrativos, a receita deve ser usada para ajudar no custo de vida dos monges, na manutenção dos mosteiros e também para ajudar nos projetos sociais.

Atualmente existem apenas 11 cervejarias no mundo que recebem este selo, sendo que apenas 1 delas está localizada fora da Europa. Confira quais são as cervejas trapistas e onde estão as cervejarias:

  • 6 na Bélgica: Rochefort, Achel, Orval, Westmalle, Chimay e a famosa e dificilmente encontrada Westvleteren
  • 2 na Holanda: La Trappe e Zundert
  • 1 na Áustria: Engelszell
  • 1 na Itália: Tre Fontane
  • 1 nos Estados Unidos: Spencer

Curioso pra embarcar nessa viagem? Separe aí uma boa cerveja e viaje no dia a dia do nosso roteiro. Ah, e se quiser qualquer informação ou bater um papo sobre o assunto é só me procurar. Saúde!

Da romântica Paris até a cidade que tem nome de cerveja, Chimay!

Antes de começar nossa viagem pelo mundo da cerveja passamos alguns lindos dias em Paris. 

Paris é um daqueles lugares que você pode ficar 3 dias ou 1 semana que ainda vai achar que faltou tempo para fazer alguma coisa. São tantos parques, igrejas, praças, museus, cafés e restaurantes que normalmente fazem os visitantes saírem de lá com aquele gostinho de quero mais. 

No dia de nossa partida programamos para retirar o carro logo cedo pois percorreríamos 230km de viagem até a nossa primeira parada na cidade de Chimay. 

Só o trajeto até lá já vale a viagem. A estrada é linda e as pequenas cidades que cruzamos no caminho são merecedoras de paradas para foto. Todas as cidades que passamos estavam praticamente desertas, acredito que pelos 6 graus que fazia lá fora. A viagem foi muito tranquila, 200km depois já estávamos na fronteira com a Bélgica. Para chegar no nosso destino final foram mais 30km pelo interior belga, passando por fazendas e estradas quase sem movimento.

Nossa base na cidade foi o Auberge de Poteupré. Como não é permitido visitar a maioria das cervejarias trapistas em praticamente todas elas você encontrará um café ou restaurante oficial. No caso da Chimay, o lugar chama-se Espace Chimay. Lá você vai encontrar um restaurante que serve todas as cervejas desta que é umas mais conhecidas cervejas trapistas, um museu que conta a história da Chimay, além de uma loja que vende souvenirs e vários dos produtos produzidos pelos monges desta abadia como queijos, pães e geleias. Ah, e o mais legal, você se hospeda logo acima disso tudo.

No Auberge de Poteupre o check-in é feito no balcão do restaurante mesmo! Enquanto esperávamos o trâmite todo para o nosso check-in, almoçamos por ali mesmo e aproveitamos para fazer uma harmonização dos queijos com as cervejas trapistas da Chimay.

Check-in feito, partimos para visitar a Abadia Notre-Dame de Scourmont que fica a aproximadamente 1km do hotel. Os jardins são tão calmos, sem barulho e bonitos que parecem uma pintura. Além dos jardins também visitamos a igreja e a capela. Como já sabíamos, não pudemos visitar a cervejaria, mas vimos que ela está ali, em meio a isso tudo!

Ainda sobrou algum tempo para visitamos a cidade. Chimay é uma pequena cidade com aproximadamente 10.000 habitantes. É possível percorrer o centro todo a pé mesmo e em pouco tempo, ali também está o Castelo de Chimay.

Com o cair da noite voltamos para o hotel. O Auberge de Poteupre tem apenas 7 apartamentos. Como a recepção é no próprio restaurante e ele fecha cedo você fica com uma senha para entrar no hotel. Os apartamentos são simples, amplos, limpos e com uma geladeira cheia de Chimay. Ou seja, o melhor lugar para estar hospedado naquela noite.

De Chimay a Poperinge. Hora de experimentar uma das melhores cervejas do mundo.

Antes de deixarmos o Auberge de Poteupré (ou hotel da Chimay!) e como ainda era muito cedo para tomar uma cerveja, aproveitamos um café da manhã fantástico com pães, queijos e geleias feitas pelos próprios monges da Abadia Notre-Dame de Scourmont. Check-out feito, começa a nossa viagem de 180km rumo a nossa próxima parada, a cidade de Poperinge. No caminho havíamos planejado passar pela cidade de Godewaersvelde que fica em terras francesas. É nessa cidade que está a Abadia du Mont Des Cats que produz a cerveja Mont des Cats. Mesmo com muito planejamento às vezes as coisas não dão tão certo. Chegamos lá e infelizmente o Auberge de Monts de Cats, “restaurante oficial” da cervejaria estava fechado. Mas não desanimamos, pois o ponto alto da nossa Rota Trapista estava a poucos quilômetros dali, mas especificamente a 10km por uma pequena estrada em meio a fazendas e plantações de lúpulo.

Já era meio dia quando chegamos no In de Vrede, restaurante localizado em frente a Abadia de Saint Sixtus, que é responsável pela produção da cerveja Westvleteren e considerada por muitos a melhor cerveja do mundo! No restaurante é possível você tomar os três tipos que eles produzem. Já levar para casa a cerveja não é tão fácil assim, a quantidade que cada cliente pode comprar é limitada a 12 garrafas por pessoa. Se agendar pelo site pode comprar diretamente na Abadia, mas a quantidade também é limitada e se conseguir agendar, o que é uma tarefa não muito fácil, vai ter uma data e horário para retirar a sua encomenda. O cardápio do In de Vrede não é muito variado mas o ambiente é bem familiar, pouco turístico e com uma das melhores cervejas do mundo sendo servidas com perfeição na sua mesa. Ou seja, se você gosta de cerveja, esta visita tem que estar no seu roteiro. Antes de irmos embora aproveitamos para garantir nossas garrafas na lojinha do restaurante enquanto experimentávamos um sorvete feito com a cerveja Westvleren 6.

Para nós, amantes da boa cerveja, esse dia já tinha sido surreal! Café da manhã com produtos produzidos pelos monges da Chimay e no almoço as melhores cervejas do mundo no In De Vrede. O que esperar para o resto dia? 

Reservamos para essa noite uma diária no Brouwershuis B&B. A ideia era ficar próximo da cervejaria St. Bernardus. Acertamos em cheio! O hotel estava localizado ao lado da cervejaria. O hotel era na verdade a antiga casa de um antigo mestre cervejeiro da St. Bernardus e possui apenas 8 quartos. A área comum é uma sala muito aconchegante com sofás, poltronas, lareira, livros e o mais legal, uma geladeira cheia de rótulos da St. Bernardus apelidado de Honesty Bar pois você mesmo decide quanto quer pagar pela cerveja.

À noite ainda fizemos um tour pela cervejaria que finaliza com um degustação guiada.

Pra fechar o dia ainda demos uma volta pela cidade de Poperinge, a capital do lúpulo belga.

No outro dia, depois de um café da manhã preparado pela Brouwershuis B&B especialmente para nós, seguimos viagem. Os planos para o dia eram conhecer Bruges e depois seguir viagem para Bruxelas. Mas na noite anterior enquanto visitávamos a cervejaria St. Bernardus diversas pessoas indicaram para que fossemos conhecer uma cidade chama Ypres. A cidade fica na região onde ocorreu a Batalha de Flandres durante a Primeira Guerra Mundial. A cidade tem uma praça central muito bonita. Lá nós visitamos também o Porte de Menin, um memorial dedicado aos soldados britânicos que morreram na guerra.

Seguimos então até uma das cidades mais bonitas da Bélgica: Bruges. A mistura de história, arquitetura e gastronomia fazem da cidade um daqueles pontos imperdíveis em uma viagem. Caminhamos pela cidade e admiramos sem pressa os seus lindos canais enquanto sentíamos um aroma inexplicável de chocolate e de malte.

Sim, malte! Afinal ali está a cervejaria que detém um dos maiores “cervejodutos” do mundo! Explico, a cervejaria Halve Mann foi criada há mais de 500 anos e está localizada no centro de Bruges. O cervejoduto foi criado em 2016 para ligar a cervejaria a uma engarrafadora que está a 3,2km de distância da fábrica. Essa foi a solução encontrada para evitar a circulação de caminhões pelas ruas estreitas de paralelepípedos da cidade medieval. Preservando assim a cidade que é um Patrimônio Mundial da UNESCO.

Depois de tomar boas cervejas, provar alguns chocolates e com a sensação de que devíamos ter tirado umas duas noites para ficar em Bruges, seguimos o nosso caminho até Bruxelas. 

Bruxelas é a capital da Unesco e dona de uma das praças mais bonitas da Europa, a Grand’Place.

Bruxelas é também a cidade das Lambics. Assim como as Ales e Lagers, Lambic é um estilo ou família de cerveja. O que difere as famílias são os processos de fermentação e no caso das Lambics a fermentação é espontânea, ou seja, ocorre sem que seja necessário a adição de levedura. A fermentação ocorre em tanques abertos onde a cerveja fica exposta a bactérias e leveduras selvagens do próprio ambiente. 

Uma das cervejarias mais famosas nesse estilo é a Brasserie Cantillon que está localizada em Bruxelas. Um bom jeito de conhecer a cidade é fazer um roteiro a pé que começa na Grand´Place e vai até a cervejaria passando por diversos pontos turísticos e conhecendo a Bruxelas de hoje e também do passado.

Próxima parada Holanda, mas antes visitamos uma das cervejarias trapistas mais famosas e a mais bonita.

Seguimos adiante na Rota da Cervejas Trapistas. O destino era a Cervejaria La Trappe uma das mais bonitas do roteiro. 

Antes de chegarmos na La Trappe passamos por outras duas cervejarias. Pela Westmalle e pela Achel, cervejaria trapista que está bem na divisa entre os dois países. Antes disso paramos em Antuérpia para conhecer uma das estações de trem mais bonitas da Europa. 

Na Westmalle não é permitida a visitação uma vez que a cervejaria está dentro das muralhas da abadia onde uma atmosfera tranquila e pacífica é essencial para a vida isolada dos monges. Mas logo em frente a abadia está o Café Trappisten onde é possível experimentar as duas cervejas feitas pela Westmalle. Isto, é claro, se alguém se candidatar para ser o motorista da rodada. No nosso caso a Larissa assumiu a direção nesse dia!

Já em solo holandês, na La Trappe fizemos uma visita pela cervejaria e ainda degustamos as cervejas nos jardins do mosteiro. Uma experiência única! 

Chegava ao fim então o nosso roteiro pelas cervejarias Trapistas. Passamos alguns dias experimentando algumas das melhores cervejas do mundo e visitando cidadezinhas que ficarão pra sempre em nossas memórias. E para fechar o roteiro com chave de ouro, passamos alguns dias na linda e animada Amsterdã.

Tenho notado que cada vez mais as pessoas querem não só viajar e tirar fotos em monumentos famosos, mas sim, terem experiências aliadas aos assuntos que gostam. Seja história, arte, gastronomia, esportes, entre outros. No meu caso, sempre que viajo procuro colocar algo no roteiro relacionado ao universo da cerveja e, percorrer o interior dos países que visito, têm trazido excelentes surpresas ao conhecer lugares que muitas vezes estão fora dos guias.

É isso pessoal. Espero que tenham gostado. Até mais!

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